Enfrento, desde que tenho memória, uma sensação de desconforto em relação ao meu cabelo. Até pode parecer estúpido, mas a realidade é que não me consigo libertar da anarquia inerente ao crescimento da minha superfície capilar.
Claro que o fantasma reaparece a cada visita ao barbeiro. Um senhor na casa dos seus sessentas, com o rádio nos discos pedidos (existem, até num sábado de manhã) e conversas que, salvo raras excepções, descambam em críticas ao Governo ou ao recurso ao Viagra.
Por esta altura, ao terceiro dia após o corte – e após comentários pouco abonatórios à forma que o senhor J. (o barbeiro) criou em zonas do meu cabelo, atrás e à frente – surge uma manifestação do lado esquerdo da cabeça que, a não ser com o recurso a uma boa camada de gel, se eleva descontrolada. Terei, como em tantas outras ocasiões, de me deparar com variações próprias (e igualmente estranhas) até à fase que denomino “de relaxamento do crescimento”. Apenas entre as duas e quatro semanas, alcanço uma relativa satisfação – chego a vislumbrar um cabelo com boa aparência.
Mas o tempo de crescimento acelerado transforma rapidamente a minha satisfação em nova visita ao Bairro Norton de Matos, para mais um corte controverso. Para já, vejo duas soluções: ou troco de barbeiro (mais de uma década depois), ou recuso produtos de tratamento capilar aceitando a irreversível (e já visível) calvície.
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