terça-feira, 27 de março de 2007

Motivação I

A crónica publicada ontem (dia 26) no jornal A Bola, assinada por Silva Resende, recupera a fascinante aliança entre o estado de espírito social e a prática desportiva. A determinada altura, o ex-dirigente encontra na tragédia do Estádio do Heysel, em Bruxelas, as razões (não todas, obviamente) para o declínio do futebol belga, culminado com a goleada em Portugal.

O interessante é perceber como, na realidade, isso resulta no nosso país, mas de maneira impulsionadora. Os portugueses encontraram no desporto, anos atrás, a “ferramenta” ideal para recuperarem glórias passadas. Despojados da vanguarda civilizacional, conquistada por outros europeus – além dos norte-americanos e uma mão cheia de orientais – os “senhores dos mares”, descobridores do novo mundo (ou do que restava dele), renovam o ego nacional através de terrenos onde podemos ser competitivos.

Daí qualquer vitória dentro das quatro linhas – qualquer que seja a prova ou modalidade – representar, para os nossos adeptos, motivo de exaltação patriótica incomparável em outras nações. Estes dados permitem perceber a mobilização dos variados quadrantes da sociedade aquando do Euro’2004, agora prolongada em outras aparições do símbolo das “quinas”.

Somos, como tantos outros – os gregos, por exemplo –, dos países que encontram na paixão contida, por um passado de séculos gloriosos (mas perdidos), e num presente e futuro condenados ao esquecimento (ou à descrição, para não se ser tão pessimista), a força motivacional para demonstrar ao mundo, olhos nos olhos – mesmo que seja com uma bola nos pés –, que existimos e que somos competitivos.

E com o "melão" na mão, as coisas também resultam (pelo menos, até determinada hora da madrugada).

P.S.: segundo estudos ligados à área, em Portugal o futebol tem mais peso na sociedade do que na maioria esmagadora dos outros países - incluindo o Brasil. O mesmo que é dizer que qualquer mesa com bica (ou cimbalino) conta, igualmente, com o indispensável treinador de bancada.

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